sábado, 24 de março de 2012

Especialistas avaliam métodos para conter vazamento de óleo no Rio

Suspeita de procedimento ilegal na Bacia de Campos foi levantada por Minc.
Chevron nega que tenha usado técnica para afundar petróleo.

Eduardo Carvalho Do Globo Natureza, em São Paulo

A ANP divulgou uma foto aérea, feita na segunda-feira (21), da mancha de óleo no Campo do Frade (Foto: Divulgação/ANP) 

ANP divulgou foto aérea, feita na segunda (21), da mancha de óleo no Campo de Frade
(Foto: Divulgação/ANP)
O óleo que vaza no Campo de Frade, na Bacia de Campos, desde o último dia 8 de novembro, está sendo retirado do mar através de uma técnica conhecida como dispersão mecânica, em que jatos de água são usados para quebrar a mancha em pequenos pedaços e facilitar a diluição e absorção do produto pelo oceano. Essa operação de limpeza foi alvo de uma polêmica que envolveu a empresa norte-americana Chevron e o governo do Rio de Janeiro.
Na última sexta-feira (18), o secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, sobrevoou a área do vazamento e acusou a Chevron de utilizar uma técnica chamada jateamento de areia para dispersar o óleo. A prática foi negada pela companhia norte-americana, que informou utilizar a dispersão mecânica para limpar o mar. A questão é investigada pela Polícia Federal, pois a técnica infringe a legislação ambiental brasileira.
O G1 ouviu especialistas que explicam a viabilidade das técnicas que podem ser usadas para eliminar a mancha de petróleo, que está a 120 km de distância do litoral fluminense. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), nesta terça-feira (22), a mancha tinha área de 2 km² e extensão de 6 km.
Editoria de Arte/G1 (Foto: Editoria de Arte/G1)
No jateamento de areia, jatos de areia seriam lançados sobre a mancha de óleo, deixando-a pesada, o que causaria seu desaparecimento da superfície e afundamento do produto. Steve Lehmann, coordenador de apoio científico do programa de resposta a emergências da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), que trabalhou na contenção do vazamento do Golfo do México, em 2010, explicou que, tecnicamente, é possível usar areia ou outros materiais para afundar o petróleo. No entanto, ele alega que isso não é permitido nos Estados Unidos por causa do dano ambiental que pode causar no fundo do mar.
“Nenhum produto que afunde o óleo é legal”, explica. O especialista ressalva que não está a par do caso brasileiro, mas duvida que areia tenha sido usada, já que se trata de prática condenável. “Já trabalhei com a Chevron e me surpreenderia se fizessem algo assim”, observou.
Carlos Eduardo Strauch, analista do serviço de operações de emergências ambientais do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão ambiental do Rio de Janeiro, garante que esta técnica não é empregada na limpeza de vazamentos de petróleo no Brasil.
Contenção e dispersão da mancha
Strauch detalha alguns procedimentos empregados no país em casos de vazamentos de óleo, como a contenção, a dispersão mecânica e a dispersão química para limpeza. “A contenção possibilita o recolhimento do óleo concentrado. Dois barcos esticam barreiras (boias) que cercam a mancha, recolhida posteriormente por um equipamento chamado skimmer”, disse.

Há ainda a dispersão química, quando produtos que reagem com a mancha são lançados em cima do óleo, deixando-o com mais chances de dissolução no mar.
Já a dispersão mecânica, técnica que segundo a Chevron é empregada na limpeza na região do Campo de Frade, pode ser dividida de duas formas. “Há a dispersão feita por barcos, quando eles navegam pela mancha para que ela se quebre, e aquela que utiliza jatos de água para quebrar a concentração, também chamado de hidrojateamento”, explica.
Segundo o oceanógrafo David Zee, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o hidrojateamento tem sido realizado na Bacia de Campos. O especialista foi escolhido pela Polícia Federal como perito para analisar o que provocou o acidente e os procedimentos da Chevron para limpeza do vazamento. Ele afirma que o lançamento de água contribui para que a mancha dilua e seja absorvida mais facilmente pelo oceano. “Se não ocorrer mais vazamentos, essa mancha poderia desaparecer em até sete dias”, disse.
Porém, para o secretário Carlos Minc, o óleo que afundaria naturalmente poderia “empelotar” e atingir a costa. “Os nossos técnicos e os do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) me informaram que mais de dois terços de todo óleo ainda não afloraram, e estão abaixo, na coluna d'água”, explicou. “Isso vai acabar empelotando e essas ‘bolas de piche’ vão aparecer nas praias de Arraial do Cabo, de Angra dos Reis, de Ubatuba. Isso pode acontecer daqui a duas semanas, ou daqui a um mês”, disse o secretário.
Vazamento ocorreu em campo operado pela companhia norte-americana Chevron (Foto: Divulgação Governo do Rio/AP) 
Imagem do dia 18 de novembro mostra óleo na
Bacia de Campos
(Foto: Divulgação/ Governo do Rio/AP)
Especialistas do Inea afirmam que a chegada do óleo dependerá das condições climáticas, que, neste momento, estão colaborando, já que o vento está soprando para leste, na direção oposta à da costa brasileira.
Queima controlada e fios de cabelo
Outra técnica para conter vazamentos é a queima controlada do óleo. Segundo Ricardo Cabral de Azevedo, professor de Engenharia de Minas e Petróleo da Universidade de São Paulo (USP), a metodologia consiste em eliminar grandes quantidades de petróleo de maneira rápida. "Mas a principal desvantagem é o impacto ambiental, com liberação de gases na atmosfera, aquecimento da água, com danos à vida marinha próxima e riscos de acidentes".

O especialista da NOAA, Steve Lehmann, conta que durante o vazamento do Golfo do México, após a explosão da plataforma operada pela British Petroleum, a queima só foi possível para o óleo que chegava recentemente à superfície e que fosse concentrado. “Se a camada de óleo no mar está muito fina, não dá para manter a chama acesa”, explica. “Queimar óleo no mar é muito difícil, mas é muito efetivo”, acrescenta.
Ainda durante o episódio, considerado o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, a gravidade da “maré negra” na costa do país foi tamanha que uma organização não-governamental divulgou que a utilização de fios de cabelo contribuiria para reduzir a mancha de óleo no oceano. O governo americano não aderiu à sugestão.
“Este material poderia ser colocado no mar para ajudar a coletar e absorver parte do óleo. Isso já teria sido usado antes, em vazamentos menores. Houve inclusive uma campanha para doação de cabelo, pêlos de animais e similares, organizada por uma entidade sem fins lucrativos”, disse Azevedo.
Mas, segundo o professor, engenheiros concluíram que a prática não era viável pois poderia aumentar a quantidade de detritos no mar. “Acredito que nenhum cabelo chegou a ser utilizado nesse caso. Quanto ao vazamento brasileiro, creio que esta opção não chegou a ser cogitada”, explicou.
Arte Vazamento Chevron Rio (Foto: Arte/G1)

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