Pneumonia química ameaça sobreviventes, do incêndio na boate Kiss
Publicado em 29.01.2013
A tragédia em Santa Maria ainda pode levar a novas internações médicas.
São pessoas que tragaram a fumaça do incêndio na boate e não
desenvolveram imediatamente sintomas de intoxicação respiratória.
Especialistas explicam que a chamada pneumonia química pode se
manifestar até três dias depois da inalação. No domingo, 24 pessoas
suspeitas de estarem com o problema foram atendidas no pronto-socorro do
município. Ontem, houve mais dois casos.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já havia alertado para o risco
de casos assim no domingo à tarde. Tosse, falta de ar e até mesmo
catarro frequente, que pode, ou não, estar acompanhado de restos de
fuligem, caracterizam as reações do corpo ao desenvolvimento da
moléstia, que, se não for tratada, pode levar à morte.
O cirurgião Luiz Philipe Molina, do Centro de Referência em Trauma do
Hospital 9 de Julho, em São Paulo, compara a pneumonia química à
formação de bolhas nas mãos após queimaduras em panelas ao fogo. "Nesses
casos, a pele fica vermelha na hora. Um tempo depois, começam a surgir
bolhas que, após uns dias, estouram. Nas mucosas respiratórias, o
processo é parecido."
Segundo ele, os tecidos internos lesionados pelo contato com o ar
quente do incêndio podem descamar. "As células que foram atingidas
acabam sendo eliminadas, impedindo o bom funcionamento dos pulmões."
Isso dificulta a transmissão de oxigênio dos alvéolos pulmonares para a
corrente sanguínea. A descamação favorece infecções secundárias. Outro
sintoma decorrente desse problema são dor de cabeça e tonturas.
A desidratação dos tecidos também pode ocorrer, segundo Ubiratan de
Paula Santos, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e
pneumologista do Instituto do Coração. "Deve-se notar que, nessas
circunstâncias, a pessoa respira gases e material particulado em alta
temperatura, o que provoca uma agressão térmica ao revestimento de
traqueia, laringe e brônquios."
A estudante Ingrid Goldani, que estava na boate Kiss, começou a se
sentir mal na tarde de domingo. Ela havia escapado do incêndio
aparentemente ilesa, mas manifestou os sintomas horas depois. Acabou
sendo transferida ontem de madrugada para um hospital de Porto Alegre.
Gravíssimos. A maioria dos internados por causa da tragédia tem
intoxicação respiratória. E a perspectiva não é tranquilizadora. Há
ainda 75 pacientes internados em estado grave, a maioria respirando por
ventiladores mecânicos, em Unidades de Terapia Intensiva de hospitais de
Santa Maria e Porto Alegre, segundo balanço divulgado no final da tarde
pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha. "São pacientes em estado
crítico, que correm risco de vida", admitiu.
Sobre o risco de pneumonia química, as autoridades recomendam que,
diante de qualquer sintoma - como tosse ou falta de ar, por exemplo -,
as pessoas que estavam na boate e inalaram fumaça tóxica procurem
atendimento médico imediatamente
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